Depois de anos de espera – uns 10, para ser exata – minha banda favorita (pra que me enganar?) da adolescência chegou ao Brasil.
Comprei o ingresso no mesmo dia que começaram a vender, uma segunda-feira no fim de julho, e comecei a olhar o calendário contando os dias até 1º de outubro.
E aí chegou.
Confesso que fui ao show pouco animada. Não curto ficar horas de pé, não gosto de multidão e pouquíssimos amigos estariam lá. De fato, só 2: um que ficou na grade – nem preciso dizer que não tenho mais idade pra chegar em show 7 da manhã, ficar 15h de pé, sol de 40ºC e ser expremida pela multidão, né? – e outro que encontrei na muvuca, e foi minha companhia de show.
Foi-se o tempo em que éramos uma trupe de umas 10, 15 pessoas que era o show dentro do show. De um monte de gente que respirava System nos primeiros anos da década, somos nós 3, Bruno, Gui e eu, os remanescentes de um grupo que noivou, casou, converteu, teve filho, envelheceu, cansou.
Por esse motivo, o sentimento que o show me trouxe não foi bem aquele que teria sido nos anos 2000. Mas o Rock’N Roll é mais do que esse mimimi. O Rock contagia. Faz pular e se esgoelar como se não houvesse amanhã. Então, assim que eles entraram no palco, qualquer angústia foi dissipada.
Sendo essa a proposta do show – dar aos fãs brasileiros aquilo que por tanto tempo esperaram – foram direto ao ponto. Sem preâmbulos, sem covers, sem incendiar o palco, nem quebrar guitarras. 2h de músicas fortes, recheadas de protestos político-econômico-sociais, e uma iluminação bacana foram suficientes para levar jovens, vinte-e-poucos-anos e tiozões ao delírio.
29 músicas. O primeiro show NA MINHA VIDA em que sabia cantar TODAS as músicas INTEIRAS. Sabia a ordem de cada música em cada cd, sabia as batidas, a hora dos reefs. Nunca estive tão conectada com a música (sóbria).
Prison Song abriu o show. Já nas primeiras batidas, os primeiros pulos da multidão indicaram o tom do show: UM POEIRAL DOS INFERNOS, resultado de semanas sem uma chuva decente em São Paulo. Durante muitas partes do show a galera passava com a boca e o nariz tapados com a camiseta. O Jóquei bem que podia ter dado um trato naquela terra toda antes do show… Sinto pena das pessoas com problemas respiratórios.
Olhem o set list, que coisa linda – http://www.setlist.fm/setlist/system-of-a-down/2011/jockey-club-sao-paulo-brazil-33d00009.html
Bonito de ver as milhares de pessoas levantando poeira LITERALMENTE <perdão aí, Ivete Sangalo> ao som de Psico. PSICO! GROUPIE! COCAINE! CRAZY!
O público, extasiado, cantava em coro todas as músicas, pouco acreditando que aquele momento – System no Brasil – estava acontecendo. Serj Tankian, esperto, dava trela e deixava frases inteiras serem entoadas pela platéia.
Revezando músicas de uma pegada mais violenta – como Psico, War e Suggestions – com músicas mais levinhas (mas nem tanto), o System evitou que a platéia se cansasse rápido demais [e saísse de lá numa maca, como bem apontou o repórter da Folha em sua crítica do mesmo show no Rio].
Claro que eu senti falta de muita música. A maioria delas mais levinhas, e que no fundo sei que não caberiam muito bem na empolgação do PRIMEIRO show da banda no Brasil. Algumas delas: Spiders, uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos; Atwa, outra levinha lindinha; Ego Brain. Uma que fez uma falta de doer foi “Fuck the System”. Até o último minuto me perguntei por onde estaria, assim como fiz com a sensacional Sugar, que não faltou. Acabou, de fato, encerrando o show.
Não teve bis. Precisava? A rigor, não. Mas deveria. A gente merecia.
Só sei que foi assim.