Com tantas expedições vapt-vupt mundo a fora (como 2 dias no México, 1 dia na Turquia e 2 dias na Romênia, 3 dias entre Israel e Jordânia…) , a magnânima Dubai, nos Emirados Árabes, não poderia ficar de fora do meu complexo mapa mundi de viagens – que é vergonhosamente ocidentalizado, dá uma olhada:
Como podem ver, Dubai é o pontinho mais oriental do meu mapa. Nunca cheguei tão perto da Índia e da China. Quem sabe um dia.
Essa foi mais uma viagem louca paitrocinada (patrocinada por papai) – que me acompanhou na jornada em Dubai. Em seguida, fui a Paris visitar meu primo, mas essa é história para outro post. Foco no Oriente Médio!
29/30 de abril
Um dia dedicado a aviões. Sem brincadeira. Fomos pela Ethiopian Airlines (MUITO mais barata), só que incluía escala no Togo (!) e conexão em Adis Abeba (capital da Etiópia). GRAZADEUS SANTÍSSIMO a Ethiopian parou de fazer escala no Togo dois ou três dias antes da nossa viagem, nos poupando horas de vida que seriam gastas em aeroportos e aviões. Ainda assim, foi tenso. O voo tava meio vazio, a poltrona entre papi e eu ficou vazia, então foi mais ok. Além disso, a Ethiopian é a única companhia não-asiática que usa o avião Dreamliner. Manjo nada de aeronaves, mas essa é sensacional! Foi projetada para oferecer mais conforto aos passageiros, de modo que o ar condicionado não resseca tanto o ambiente, é preparado para tremer menos durante as turbulências e as janelas são maiores e sem persianas – durante o dia, o passageiro ativa um controle que escurece a janela. Muito louco!!! Se estiver interessado no assunto leia mais aqui.
Saímos de São Paulo 0h e pouco da madrugada do dia 29 para o dia 30 de abril. Só chegamos a Dubai às 4h da manhã do outro dia (1º de maio). Isso porque:
1- Cruzamos a fucking África inteira, de oeste a leste;
2- A conexão em Adis Abeba (cujo aeroporto é SOFRÍVEL) atrasou mais de 1h e foi uma bagunça, ninguém respeitando nada, nego tudo se empurrando para entrar no embarque;
3- O trecho Adis Abeba-Dubai daria umas 3h em condições normais. Mas o Iêmen tá em guerra, sob ataques aéreos e talz, de modo que todas as rotas que passam pelo país são desviadas. Assim, nosso vôo “ganhou” mais 2h. Delícia. Olha só a rota para não passar pelo Iêmen, que doideira:
O problema é que tínhamos um tour marcado já para às 7h da manhã. A ideia era ir para o hotel dormir um tico, tomar um banho e sair. Só que não contávamos com a fila de quase 2h na imigração em Dubai. O controle de passaporte estava ABARROTADO de gente, e a fila não andava. Um tormento.
Detalhe: para entrar em Dubai é necessário um visto. Quem vai pela Emirates, a companhia oficial dos Emirados (dãr), paga U$ 50 no visto de entrada única; quem vai por outras companhias, morre com quase U$ 200 (nosso caso). Além disso, você pode pagar um “extra” para ir à fila “fast”. Ou seja: a burocracia no controle de passaporte e as longas filas são financeiramente interessantes.
Isso já dá uma dica do que é Dubai: o triunfo do dinheiro. Quem tem se dá bem. Quem não tem…
1º de maio
Fomos de táxi até o hotel, que era na parte mais periferia de Dubai. Uma região onde moram imigrantes, principalmente indianos e paquistaneses, que são as duas nacionalidades mais comuns entre imigrantes nos Emirados Árabes – embora a riqueza e necessidade de mão de obra barata tenha trazido levas de imigrantes de mais de 60 países!!!
O hotel, mesmo na “perifa”, era bem bacana, com banheira e tudo. Gateway Hotel. Duas pessoas, duas noites, café da manhã, transfer para o aeroporto e tinha até piscina (que nem deu tempo de olhar)… 450 AED (o AED, em relação ao dólar, é tipo o real. Algo em torno de 1=3). Isso é um bom preço, juro!
Foi o tempo de fazer check-in, tomar uma ducha e ir para o saguão esperar o guia do primeiro tour do dia: Bedouin Breakfast at the Desert, comprado pelo site Viator por um valor que desconheço – até porque a excursão não existe mais no site.
Fomos meu pai e eu e um casal inglês. 1h de estrada num carro com ar condicionado a pico até a entrada do Dubai Desert Conservation Reserve, um pedaço do Deserto dos Arábias. Eram 8h e pouco da manhã e eu ainda não tinha sentido o tão famoso calor de Dubai.
No caminho até lá, passamos por hordas de cáfilas (Google acaba de me informar que essa é a palavra para coletivo de camelos).
O guia nos explicou que corrida de camelo é o esporte oficial dos Emirados Árabes. Todo mundo que se preza cria camelos e está sempre comprando mais. A preço de ouro, claro. Alguns valem centenas de milhares de dólares.
Chegamos enfim à entrada do deserto e o guia nos vestiu à caráter:
Além de ficarmos charmosos, os panos são essenciais para nos proteger do sol forte do deserto e evitar desidratação, queimaduras e coisa e tal.
A primeira parada foi no acampamento beduíno. Por mais realista que seja, vale dizer: não existem mais nômades nos Emirados Árabes. Todo mundo enricou e mora em belíssimos e luxuosos apartamentos com ar condicionado na zona urbana…
Triunfo do capitalismo sobre as culturas primitivas…
À entrada, havia um homem preparando um dos quitutes que seriam nosso café da manhã. Uma espécie de panqueca de zaatar, aquela erva árabe.
Na foto abaixo, a tal panqueca de zaatar está à direita da cumbuca. No meio, uma espécie de miojo doce (?) e no canto esquerdo, uma panqueca americana, sem qualquer charme.
Havia um beduíno nos recepcionando. Ele respondeu perguntas do público (nós e vááários outros grupos) sobre a cultura dos beduínos e a vida em um dos lugares mais ricos do planeta.
O beduíno era bem para inglês ver e mais parecia personagem de humor tosco. Mas falou umas coisas interessantes, sobre como o governo paga TUDO – habitação, saúde, educação, lazer…; sobre poligamia; sobre não existirem mais beduínos nos EAU, apenas porque a vida na cidade é muito mais prática e cômoda. Não podemos negar, né…
No final, sessão de fotos. Aproveitei e fui também:
Depois dessa sessão “entrevista com o árabe”, mais uma atividade bem turística: passeio de camelo.
Só uma voltinha pelos arredores do acampamento, para tirar fotos e sentir o drama da altura do bicho. Mas valeu a experiência.
Próximo destino era um passeio pelo deserto num jipe sem cobertura. Eram umas 10h e o sol castigava. Calor forte e sol a pico. A burca foi mais importante do que nunca.
Demos uma volta na reserva vendo aquele areal sem fim e os bichos do lugar. Obviamente a maior parte dos animais (cobras, insetos, roedores) passa o dia em tocas e sai para se alimentar a noite. Durante o dia, o deserto é ocupado pelos Órix. Esses bichos fofos aqui:
Também rolam umas aves de rapina, mas não vi nenhuma 😦
Eram umas 11h quando voltamos ao hotel. Ainda tava rolando café da manhã, e não pensamos duas vezes: nosso almoço seria a rebarba do café da manhã.
Descansamos duas horinhas antes do próximo passeio: Half-day Dubai city tour.
Em um ônibus com ar condicionado no talo, rodamos até Jumeirah Beach, a praia chique de Dubai. Na região estão vários dos hotéis-ostentação de que tanto ouvimos falar: 6 estrelas, com teto de ouro, pedras preciosas e tal.
Bem bonita a praia. Com aqueles 43ºC a sombra (que sombra?), dava uma vontade louca de entrar… Inveja dos banhistas.
Ah, os banhistas: sim, Emirados Árabes são muçulmanos, mas os frequentadores dessas praias são em sua maioria ocidentais cheios da grana. Não rola fio dental, mas também não tem ninguém de burca na praia…
Do outro lado, o destaque da paisagem é para o Burj Al Arab (burj em árabe = prédio):
A “abinha” no topo direito do prédio é um restaurante… De lá dá pra ver a “The Palm”, a ilha artificial que forma uma palmeira – vocês sabem…
Imagem do Google Earth. Não tive o prazer de ver esse engenhosidade humana…
Próxima parada:
uma das maiores mesquitas dos Emirados Árabes, a Jumeirah Mosque:
Só demos uma volta ao redor dela… Estava fechada 😦
Em seguida, fomos ao incrível Museu de Dubai:
O museu fica no Forte Al Fahidi – a estrutura mais antiga da região, construída em 1799. O local abriga uma coleção interessante que mostra a estratosférica mudança de Dubai: de uma vila beduína a um centro global de comércio, finanças e turismo.
Há canhões, barcos de pesca, tendas beduínas e representações da vida de antigamente. Há espaços que mostram a vida tradicional em casa, na mesquita, no deserto e no mar. Há vídeos, fotos e documentos mostrando a transformação da área. Vale a pena!
Próximo destino: Deira Spice Souk. Para isso, atravessamos o canal de Dubai de barquinho ❤
Louco como o horizonte é todo misturado: vários prédios espelhados chiques e várias construções tipicamente árabes.
O Deira Spice Souk é mais um dos famosos mercados que toda cidade árabe possui.
Temperos, incensos, bugigangas, roupas… Tem de tudo ali, e desperta todos os nossos sentidos: é tudo tão colorido! Tão vivo! O povo gritando tentando vender. Os cheiros das pimentas, dos temperos, das plantas. As cores das lanterninhas. Os sabores das coisas que nos dão para experimentar. Incrível.
Tem de tudo aí: frutas secas, canela, pimenta e zilhões de coisas que não faço ideia.
Em seguida fomos ao Mercado do Ouro de Dubai, ou Gold Souk.
Bizarro.
Várias ruas dedicadas ao comércio de ouro e pedrarias. E as vitrines das lojas, minha gente? Tipo isso:
TUDO OURO.
Bem assustador pensar que só essa vitrine compra o meu prédio inteiro.
As estimativas são de 10 toneladas de ouro passando diariamente pelo Dubai Gold Market.
E esse foi nosso destino final no city tour. Deu bem pra ver o básico…
Voltamos para o hotel.
A região em que estávamos só tinha restaurantes indianos e, como não curto curry, convenci papi a procurarmos outro restaurante para jantar. Infelizmente nada árabe, mas nos indicaram um com frutos do mar fresquinhos e bem perto: o Golden Fork.
Foi uma sucessão de más escolhas. Meu prato era grande demais e tudo era empanado. Um erro, mas, fazer o quê…
Ao menos era tudo fresco, né? Os camarões, as lulas, o caranguejo inteiro (!), o filé de peixe, as ostras…
Voltamos para o hotel destruídos como poucas vezes na vida. Só lembrando: 30h de aviões+aeroportos e 2 city tours, tudo isso com quase zero intervalo para descanso. Pesado.
Pior meu pai: eram umas 21h e o voo dele de volta ao Brasil (via Adis Abeba) era daqui algumas horas. Ele saiu do hotel 1h da manhã, tendo dormido menos de 3h em 2 dias e pronto para encarar mais 20 e tantas horas de avião… De modo que ele não passou nem 24h em Dubai! É, tem gente que é louca, mesmo…
2 de maio
Papi foi embora, mas eu ainda tinha uma manhã inteira sozinha em Dubai antes do meu voo para Paris (via Adis Abeba), às 17h.
Dormi bem, tomei café da manhã tranquila e, seguindo as instruções da moça do guichê de turismo do hotel, foi ao Burj Khalifa, a maior estrutura já construída pelo ser humano.
Fui a pé até o metrô – forma mais fácil e barata de chegar ao prédio. Mas não foi agradável, pois: eram 7h da manhã e o sol já rachava; eu era A ÚNICA MULHER DESACOMPANHADA E SEM BURCA NA RUA. Mesmo estando vestida ~decentemente~ (calça, camisa cobrindo braços, nada de decote) todo mundo me olhava com estranheza. Os homens locais pior ainda: é um misto de luxúria com um olhar acusatório de “mulher desacompanhada sem burca = puta”. É horrível. Desaconselho fortemente mulher viajar sozinha ao mundo árabe.
Minhas experiências do gênero foram na Jordânia e nos Emirados Árabes – países acostumados com ocidentais e tidos como os mais liberais do mundo muçulmano. Em ambos, me senti mal. Não consigo nem imaginar ir para Irã e picos do gênero. Aliás, esse choque cultural + o fato de ser mulher sozinha é uma das milhões de razões pelas quais meu mapa é tão ocidentalizado. Tô de boa de ir pra China ou pra Índia sozinha…
Enfim:
fui no vagão das mulheres no Metrô – todo mundo respeita e segue a risca.
A estação de metrô cai dentro do shopping, o Dubai Mall – o maior do mundo (claro, em Dubai tudo é maior/melhor/mais caro do mundo). Demorei quase meia hora para achar a entrada do Burj Khalifa, afinal, 8h da manhã ainda tava tudo fechado no shopping…
Como fui bem cedinho, comprei fácil e não peguei fila para subir os 147 andares do prédio – que tem mais do que isso, mas, $$$, né.
No entanto, sempre aconselham comprar com antecedência. Até porque é mais barato. Em todo o caso, eis o link.
O Burj Khalifa tem 828 metros de altura e 160 andares. A aventura já começa no elevador… Dá frio na barriga de tão rápido, e é todo tecnológico, cheio das luzinhas…
Chegando lá em cima, esse é o visu:
Uma cidade enorme e rica construída no meio do deserto. E o mar do Golfo Pérsico.
#Ostentação
Rola uma área interna e uma área externa. Aguentei poucos minutos na externa: calor do inferno + sol a pico + altura (o que torna ainda mais quente): complicado.
Na entrada, tem uma exposição de fotos contando a história do prédio, construção, fatos e recordes. Bacaninha.
Paguei um pau para essa foto em particular, de algum ano novo:
Louco demais! Malz aê a sombra… Foto de foto é uma merda.
Esse é o Burj visto de fora: não cabe na foto! Isso porque tirei praticamente deitada!
Na lojinha (ona, no caso) de presentes, achei essa bolsinha espetacular – não comprei; nunca compro nada.
Hahahha. Van Gogh se revira no túmulo!
Meu plano era voltar para o hotel 11h, tomar um bom banho, descansar um pouco e ir para o aeroporto. Mas como ainda eram 9h e pouco e eu estava dentro do maior shopping center do mundo, pensei: porque não?
Eu odeio shoppings. ODEIO. Não sou a turista consumista – nunca compro NADA. Mas, gente, que shopping! O lugar tem uma área externa linda, com fontes de água, bares, restaurantes, hotéis… E dentro mais de mil lojas (dentre as quais uma das Havaianas, claro). Dei uma rodada descompromissadamente, sem entrar em nenhuma loja. Claro que todas as grifes estavam lá. Me espantei com essa loja aqui:
Que horror de nome, gente! “NÃO DO BRASIL” (?????)
Mas o que me chocou de verdade nesse shopping não foram as mais de mil lojas ou o tamanho, mas o tipo de coisa que tem lá dentro, tipo:
Arena de Hockey:
Um esqueleto autêntico de um dinossauro na área dedicada às coisas árabes do shopping:
Um aquário com arraias e tubarões:
QUE DOIDEIRA!
Voltei para o hotel – novamente a péssima sensação de ser mulher em um lugar mega machista.
Tomei banho e fui pro aeroporto. Tinha uma arte do Romero Britto bem na entrada! hahaha
Tava cedo, então dei uma volta pelo freeshop, comprei um sanduíche para almoçar e fiquei esperando meu voo para Adis Abeba (+5h para Adis Abeba, 2h de conexão e +7h até Paris, argh). Grazadeus o primeiro voo estava vazio – tanto que escolhi uma janela da hora para ver uma decolagem incrível:
O Burj Khalifa lindão lá no fundo, ao por do sol ❤
Faltou: ver a The Palm (a ilha-palmeira), entrar no mar, ir a um parque aquático. De qualquer forma, acho que minhas 30h em Dubai foram muitíssimo bem aproveitadas, não? 🙂