2 dias em Bariloche (2017)

Sabem aquelas viagens paitrocinadas que meu pai sempre diz ser a última, mas acaba não sendo? Pois bem: mais uma viagem paitrocinada rolou no feriado de Corpus Christi, em junho. O destino da vez: Bariloche, na Argentina.

Volto ao destino 23 anos depois. Tenho grande carinho por Bariloche: foi a primeira vez que saí do Brasil, primeira vez que vi a neve. Foi uma viagem deliciosa com meus pais no começo dos anos 90.

70Au8bljEra dezembro, verão. Mesmo assim tinha bastante neve eterna. Hoje em dia quase já não há neve eterna nos picos de Bariloche 😦

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Minha primeira experiência na neve. Roupa de neve alugada e posando no jet-ski (?) de neve que alguém tinha largado lá ahahha

A razão para voltarmos a Bariloche: desde quando fomos para Ushuaia, em abril de 2016, e um argentino disse para o meu pai que San Martín de Los Andes (uma cidade a 100km de Bariloche) era imperdível, meu pai obcecou. Minha mãe não quis ir, então lá fui eu acompanhá-lo 🙂

16 de junho, sexta-feira

Saímos de São Paulo com destino a Buenos Aires no amanhecer da sexta-feira. Voamos pela Aerolíneas Argentinas.

Bariloche (1)

Voo sem altos ou baixos.

Fizemos conexão em Buenos Aires e partimos para Bariloche.

Todos as previsões indicavam neve, mas não imaginávamos que seria naquele grau. O inverno ainda nem tinha começado!

Percebemos que a coisa tava feia no pouso. Branco branco branco branco branco. Pra cima, pra baixo, pros lados, tudo branco.

pouso

Pousamos e mal se via ao redor. Os termômetros marcavam -2ºC.

Se liga na quantidade de neve acumulada nos carros, na frente do aeroporto:

Bariloche (2)

Só dava brasileiro maravilhado com a neve, inclusive nós ♥

Tava friiiiio.

O táxi para o centro era caro, então esperamos no aeroporto para pegar o ônibus. Meros 25 pesos (uns R$ 4) para ir ao centro. O único problema: só pode pagar com o cartão próprio do transporte público argentino, um tipo de bilhete único.

Não há exceções.

A treta é que só nos avisam isso dentro do ônibus. E é super difícil achar a desgraça do bilhete para comprar.

A nossa sorte foi que um cara se oferecer pra pagar as nossas passagens. Argentinos são solícitos, juro pra vocês.

Chegamos à região central, onde fica o Centro Cívico no fim da tarde. Nevava bastante.

Bariloche (3)

Tiramos fotos e ficamos pensando na roubada que seria o passeio do dia seguinte, caso o tempo permanecesse assim: visibilidade zero e branco, branco, branco (o passeio do dia seguinte se baseava em paisagens; um dia bonito seria importante).

Ficamos no Hotel Flamingo, uma pensão simples praticamente embaixo do Centro Cívico. Lá chegando, as recepcionistas/donas do hotel ajudaram meu pai a achar o contato da agência, para ver se o passeio do dia seguinte estava de pé, até por questões de segurança. Confirmaram.

Feito isso, demos uma relaxada. Já era noite.

Pouco depois saímos para jantar um esplêndido churrasco argentino no El Boliche del Alberto. Para repetir a excelente experiência de 23 anos atrás.

Meu pai dizia que era o melhor churrasco que tinha comido na vida… Íamos ver se continuava assim.

A caminhada até lá foi curta, mas penosa na neve incessante.

Mas valeu a pena. E era sim o melhor churrasco. Certamente o melhor que comi na vida.

Provoleta de entrada, asado de tira e uma pequena porção de fritas. E vinho.

Bariloche (4)

Nunca comi tão bem na vida. Que carne DELICIOSA, meu pai do céu.

Voltamos pro hotel e dormimos.

17 de junho, sábado

Tomamos café da manhã (medialuna con dulce de leche – croissant com doce de leite, TE DEDICO, ARGENTINOS ♥) e ficamos na recepção esperando o guia.

Só no caminho, por volta das 9h da manhã, é que começou a amanhecer. E que belo dia! Já se via o horizonte e o sol nascendo…

Bariloche (5)

Seguimos até perder Bariloche de vista, entrando no Parque Nacional Nahuel Huapi e pegamos a Ruta 40, que se conecta à Ruta 3 mais pra frente – a estrada de mais de 3 mil quilômetros que liga Buenos Aires a Ushuaia.

Conforme fomos seguindo, percebemos que a neve tinha sido realmente intensa. E ESSE SOL NASCENDO, MEU DEUS???

Bariloche (7)

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Que coisa mais MARAVILHOSA. A sensação de pisar na neve, aquele frio de graus negativos, sentir o ar puro e geladinho entrando no corpo, observar a natureza assim, tão linda… É bom demais ♥

Seguimos por um caminho lindo – o passeio se chamava “Rota dos 7 lagos”, e não a toa. Passamos por vários. Aquelas paisagens magníficas de cartão postal!

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Um pouco depois, uma parada em Villa La Angostura, uma cidadezinha fofa, pico dos ricaços argentinos (inclusive do Macri, atual presidente).

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Estava bem frio. O que é bom fazer no frio?

CHOCOLATE QUENTE!

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No pico mais fofinho, a cafeteria Cucu Schulz, um chalezinho suíço todo nevado:

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ME DIZ SE NÃO É UM AMOR!

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Pirei nessa árvore, que tem em toda a região. Os passarinhos comem as frutinhas vermelhas. E fica tão lindo tudo nevado!

Seguimos rumo a San Martín dos Los Andes.

O tempo fechou de novo e a neve caiu incessante.

Paramos em mais alguns lugares lindos:

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Não é minha primeira, nem segunda, nem terceira experiência com a neve. Mas é sempre encantadora 🙂

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Papi e eu NO AUGE na nevasca. Delícia demais.

Já perto de San Martín de Los Andes, o tempo abriu de novo e revelou mais paisagens lindíssimas:

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Chegando a San Martín de Los Andes, parece que mudamos de país. Nem resquício de neve, temperatura acima de zero… Um vilarejo fofo.

Fomos direto almoçar, pois estávamos famintos. Ficamos no restaurante que o guia indicou, Posta Criolla, e pedimos coisas típicas da região.

O meu prato, de cima, era truta com molho de gorgonzola e batatas.

O do meu pai, prato debaixo, lombo de cervo (veado) com risoto e molho de vinho com framboesas.

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Vinho para acompanhar, é claro.

O meu prato estava ótimo, mas o do meu pai era um soco no estômago. Gostoso, mas carne de caça tem um sabor MUITO forte. Não sou chegada, não.

Bom, não fizemos mais nada em San Martín de Los Andes e a única foto da cidade ficou horrível:

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Voltamos para Bariloche. Mais neve no caminho, nada pra ver, dormi.

Chegamos e já era noite.

Fizemos uma hora no hotel e depois saímos para jantar.

O plano era comer carne de novo, mas em um lugar diferente. Fomos e chegamos a entrar no Alto El Fuego, mas achamos um ambiente zoado, abafadíssimo, barulhento.

Resolvemos ir no certo. Fomos de novo no Boliche del Alberto, mas em outra unidade. A original, a mesma que fomos nos anos 90.

Bom, a experiência foi bem diferente. Ainda que fosse a mesma rede, o serviço foi fraco, a carne estava esquisita, o ambiente era meio desajeitado. Nada a ver com a experiência do dia anterior 😦

E fica aí a sina eterna das viagens em família: o jantar da última noite é sempre uma merda.

(E como nossas viagens são curtas, não raro A ÚNICA refeição é o jantar, que é uma merda, tipo como foi em Dubai, rs).

De barriga cheia mas com o paladar insatisfeito, voltamos para o hotel. A neve tinha parado. A neve só se forma quando a temperatura está entre 2 e -2°C, e estava MENOS QUINZE. Zero neve, muuuuito frio.

18 de junho, domingo

Acordamos com esse BELÍSSIMO amanhecer no nosso último dia.Bariloche (14)

Tomamos café da manhã e fomos procurar pontos de venda da desgraça do bilhete único argentino, pois precisaríamos dele para ir a Llao Llao, nosso plano para o último dia.

Não foi NADA fácil achar o bilhete. A maioria dos lugares não tinha ou ainda estava fechada. Lá pelo oitavo estabelecimento, quase 1h depois, conseguimos comprar.

Ufa.

Coincidentemente, a lojinha e o ponto de ônibus eram quase em frente ao hotel em que nos hospedamos da outra vez. Olha que graça 🙂

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O trajeto de ônibus até Llao llao, a ponta de Bariloche, durava uma hora. A paisagem estava linda e o tempo simplesmente perfeito.

Chegamos ao ponto final e entramos no chiquetésimo Hotel Lllao Llao, que dá acesso as partes externas:

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Tá ruim?

Só quero isso pra minha vida. hahaha.

E assim?

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Daquelas paisagens para arrepiar a alma, tá louco ♥♥♥

Andamos um pouco por lá, curtindo aquele visual maravilhoso. Como diz meu pai, PRA QUÊ ALPES?

Mas logo era hora de irmos embora.

Pegamos o ônibus e voltamos pro centro. Chegando lá, tirei a foto clássica de Bariloche, repetindo a experiência de quando era criança: foto com o cachorros de neve (mais especificamente, o São Bernardo com o mitológico barril de chocolate quente, para os perdidos na neve).

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Nota 10 pro fotógrafo da foto antiga, hein? Um cachorro olhando pro lado e outro de olhos fechados (e é um HUSKY, o olho mais foda do reino animal. hahahah)

A foto foi feita próxima a Llao Llao. Aquela construção ao fundo, atrás de mim, é o hotel de onde tirei a foto com a piscina de fundo infinito (que não existia na época) 🙂

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Foto atual. No Centro Civico.

Importante dizer: a temperatura já tinha subido bem. Devia estar uns 2 graus ACIMA de zero.

Daí passei numa lojinha para comprar uns chocolates. Argentina tem uma parada que é uma das melhores coisas dessa vida: CHOCOLATE EM RAMA

Comprei um pouco, fui pro hotel, arrumamos as coisas e partimos pro aeroporto.

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O voo atrasou. Mal teríamos tempo em Buenos Aires (isso pq meu pai esquematizou um upgrade, com sala vip em Buenos Aires e tal).

OLHA ESSA DECOLAGEM, BICHO

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Saca um X no meio da foto, mais pro lado direito? É o aeroporto, são as pistas 🙂

Bariloche (22)

Bariloche toda linda.

Foi lindo. 2 dias ótimos. Bariloche continua nota 10 ♥♥♥

Toronto/Jerusalém/Palestina em 3 dias (2016)

Nos últimos anos deixei de postar muita coisa e hoje me arrependo. Não contar sobre minhas viagens é um crime, porque acabarei inevitavelmente esquecendo boa parte. Nunca falei da minha uma semana em Paris (tá nos rascunhos, quem sabe um dia?) em 2015; do bate-volta às Bahamas no mesmo; da Alemanha/Bélgica/Espanha ano passado; nem da Argentina, nem do Chile. Foram viagens ótimas, cada uma com suas bizarrices, peculiaridades e perrengues. Quem sabe um dia eu animo, né?

Mas, por ora, vou me ater à uma viagem realizada em setembro de 2016, que ainda tá “meio” fresca: 3 dias entre Canadá/Israel/Palestina. Sim, você leu certo. 3 continentes (se considerarmos o Brasil-América do Sul como origem) em 3 dias. Céus, virei meu pai hahaha

Sim, sim. Essa foi mais uma viagem paitrocinada. Ele sempre jura que é a última vez. Uma hora será. Mas enquanto pintarem… Quem sou eu para recusar, não é mesmo?

A loucura da vez surgiu com mais uma promoção do site Melhores Destinos. Ida e volta para Tel-Aviv, pela Air Canada, por MIL FUCKING REAIS POR PESSOA.

Claro que ficou mais caro que isso. Afinal, tinha conexão em Toronto, e o Canadá exige visto, mesmo que de trânsito. Foi uma chatice correr atrás disso, além de custoso. Mas ok.

Eu já tinha estado em Israel e Jordânia em 2012. O relato você pode acompanhar aqui.

Marcamos a viagem para o feriado de 7 de setembro. Saída na quarta, 7, a tarde, volta na segunda, 12, de manhã. Estaria em Israel novamente durante o Shabat, o dia santo, quando tuuudo fecha. Mas fazer o que, né…

Vamos ao relato.

7 de setembro, quarta-feira

Decolamos de Guarulhos 20h e pouco num avião meio velho da Air Canada. Voo lotado. Jantar bem sem graça. Triste.

Quase 10h de voo inteiro noturno até nossa primeira parada: Toronto.

8 de setembro, quinta-feira (Toronto)

Em 2004, passei 2 meses no Canadá fazendo curso de inglês (a linguagem é miguxa e detestável, mas conto um pouco da época aqui e aqui). E uma foto ridícula da época aqui:

Na oportunidade, pude conhecer super bem Toronto e suas redondezas. Também estive em Quebéc, Montreal, Ottawa, Vancouver e Whistle.

12 anos depois, muita coisa deve ter mudado em Toronto. Mas só teríamos algumas horas pra fazer um rolê pela cidade, antes da conexão para Tel-aviv.

Meu pai nunca tinha estado em Toronto. Ele pensou em ir à CN Tower, que é uma torre enorme, cartão postal, com vista panorâmica, mas estava um dia HORROROSO. Não valeria o alto custo. Preferimos pegar o metrô e ir até o centro, dar uma volta por lá e fim. Barato e eficiente.

Do aeroporto, fomos de trem até a Union Square. Chegando lá, vimos um ônibus gratuito que ia entre a localização onde estávamos e o pequeno aeroporto Billy Bishop, também no centro de Toronto. Meu pai, TARADO por aviação, quis conhecer. E lá fomos nós.

Até que o passeio valeu a pena, pois o aeroporto tem umas particularidades interessantes, como por o exemplo o fato de ficar em uma ilhota, e, para alcançá-la, há duas formas: uma passagem subterrânea ou uma balsa:

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Fomos pela passagem subterrânea.

Para entenderem o aeroporto, essa foto minha tirada em 2004 do alto da CN Tower ajuda:

O aeroporto tem uma decoração toda temática Billy Bishop, um conhecido aviador canadense que fez história principalmente na I Guerra Mundial. Tem até uma réplica do avião dele, ó que fofo. Desculpem pelas fotos péssimas, mas meu celular tava nos seus últimos dias de vida.

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Pegamos o mesmo ônibus para voltar à Union Station.

Tava um dia realmente horroroso. Abafado e chuvoso. Então o rolê foi curto.

Fomos até o Entertainment District. A Broadway de Toronto. Ia ter um festival de cinema no mesmo dia, a noite, então as ruas do bairro estavam fechadas para tráfego de carros. Ótimo para passear.

O bairro é uma graça, cheio de bares, restaurantes e teatros:

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Andando na direção contrária, fomos parar na frente da igreja St. Andrews:

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Interessante notar, na panorâmica acima, a CN Tower, à direita. Entre dois prédios bem altos, logo atrás de um edifício meio achatado e baixo. A vista de lá é foda e deve ter mudado bastante em 12 anos, né?

Passeio super rápido, mas valeu.

Depois voltamos para o aeroporto. Meu pai tinha um esquema lá para usarmos a sala vip por 3 horas. Mas era uma sala VIP humildona. Pelo menos tinha vinho. Bebi, hein. Bem.

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O voo para Tel-aviv, marcado para 16h30, atrasou mais de 2h (aliás, 3 dos 4 voos que fiz com a Air Canada nessa viagem atrasaram mais de uma hora. Fica aqui a crítica). Com esse atraso, perdi um passeio que faria em Jerusalém logo que chegasse, no dia seguindo. Paciência, né =/

Além disso, embarcamos no avião e… Nosso assento era aquele sem janelas. Fiquei louca com o meu pai. Ele é o PHd em aviação. Não sabia que nosso assento era sem janelas? Ele disse que não.

Mas eu tava puta da vida. Juntando isso com o consumo excessivo de vinho (a bebida da BAD) e uma crise fortíssima no meu então “relacionamento” lá em São Paulo, a coisa tava FEIA. Passei metade do voo chorando HAHAHA.

Ok, volta pra viagem.

Tenso quando o trajeto do seu voo mal cabe na tela, né?

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Provavelmente o voo mais longo da minha vida. Mas o da volta (14h) seria pior. Entre 7 e 12 de setembro, foram gastas 46h da minha vida em aviões. Joia.

Bom, não tinha janela no meu assento, mas quando fui ao banheiro fui contemplada por esse visual maravilhoso do balneário de Antália, na Turquia:

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9 de setembro, sexta-feira (Jerusalém)

Deveríamos chegar 10h, chegamos depois do meio-dia. Dureza. Nesse ponto, meu pai e eu nos separamos: ele ia para Petra, Jordânia (já tinha ido em 2013), e eu iria para Jerusalém. Nos encontraríamos apenas no embarque da Air Canada do voo Tel-Aviv – Toronto. E ele com um celular ultrapassado incapaz de mandar qq sinal de fumaça. Tem tudo pra dar certo, né?

Bom, 1h de táxi compartilhado e eu estava lá em Jerusalém, no mesmo hostel da última vez, o excelente Abraham Hostel. Um ótimo café da manhã, quarto privado bacana, localizado a 15 minutos a pé da cidade antiga (a parte sagrada).

Eram 14h quando cheguei. O tour que eu pretendia fazer – Holy City Tour já era. Sim, tour. Em 2013 fiz isso por conta própria e me dei mal. Manjo zero de religião e fiquei boiando nos lugares históricos, que obviamente não têm placas com “aqui acredita-se que Jesus carregou uma cruz”, sabe? Bom, mais uma vez fiquei sem saber o que Jesus fez ou deixou de fazer naqueles lugares em que vi tanta gente praticamente lambendo o chão e chorando.

Optei por um tour às 17h. Assim, eu poderia dar uma descansada (22h de avião, veja bem). Fiz isso.

16h30 estava lá no Jaffa Gate, a principal porta de entrada da Old Town, pro Tour Shabbat Experience.

A ideia do tour era dar um rolê pelos pontos históricos do judaísmo, no Dia Santo, e terminar o passeio no auge da celebração do Shabbat, no Muro das Lamentações.

Enquanto o sol começava a se pôr, passamos por sinagogas e outros pontos históricos.

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Abaixo, o Muro das Lamentações e ao fundo o Monte das Oliveiras. Uns 35 graus. Mas lindo ❤

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Um dos locais mais sagrados do judaísmo, acredita-se que o muro é o que restou de um dos mais antigos templos dessa religião – construído originalmente antes de Cristo. É também um símbolo da vitória de Roma sobre os judeus, que por séculos estiveram impedidos de acessarem a área.

O Muro das Lamentações divide homens e mulheres. Na foto acima, dá pra ver uma barreira bem no meio da foto, um pouco à direita da bandeira de Israel.

Só que os tempos mudaram e os movimentos de igualdade entre gêneros começaram a demandar um local para que homens e mulheres orassem juntos. Pois bem. Ele existe e fica do lado da concentração original. Mas permanece vazio. Ou utilizado por turistas como nós.

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O sol estava se pondo. Os cantos e orações ficavam mais altos. É exatamente nessa hora que começa o Shabat – todos devem parar e cultuar a deus.

Então, dividimos o pão e o vinho (suco), comemos e oramos (eles, não eu) – assim como é a tradição judaica.

Depois voltamos para a parte central do muro. Era o auge. Muita cantoria, muita dança. Próximo ao muro, silêncio alternado com pessoas chorando, orando compenetradíssimas. Acho uma loucura esse lance de religião, sério.

Fiz até um videozinho:

Impressionante. Energia poderosa.

Os trajes também chamavam atenção, principalmente os judeus ortodoxos, com suas barbas longas, chapéus e cachos.

Sempre lembrando que era verão no Oriente Médio e a temperatura estava alta. BEM ALTA. Mesmo durante a noite.

Depois dessa experiência magnífica, voltei para o hostel pelas avenidas que a pouco estavam cheias, mas agora não tinham viv’alma. Nada, nada. É bizarro. Até um pouco assustador. Uma noite muito quente e nenhum ser vivo na rua.

Cheguei ao hostel, tomei um banho e desci ao bar para jantar. Antes, uma cerveja, claro. Shapiro, a principal marca da região.

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O jantar? Pizza. Shabat, né. Tudo fechado. Tinha que me garantir no hostel, mesmo.

Daí tô lá tomando minha 4ª pint e senta um cidadão do meu lado, claramente alemão, e puxou papo. Pensei: eba, hora de treinar o alemão! Não durei 3 frases, juro. No alto do meu nível intermediário no Goethe Institut, NÃO FUI CAPAZ DE FALAR TRÊS FRASES. Ele perguntou se eu preferia inglês. YES, PLEASE. E ainda perguntou: ou espanhol? PORRA COLEGA, NÃO PRECISA HUMILHAR HAHAH

É, enfim, peguei o cara. Stefan. Um alemão de Stuttgart que ama o Brasil e tava usando havaianas. hahaha clichêzaço.

Só que ele queria ir pro meu quarto (privativo), eu tava zero afim (lembram que eu falei que tava em crise amorosa à época?). Tava exausta e morrendo de sono. Ele me levou até a porta do meu quarto e por lá – do lado de fora da porta – ficou.

Eu entrei e desmaiei. 22h de avião, rolê no calor de Israel, alimentação toda zuada, 5 cervejas e acordaria às 6h no dia seguinte. Há limites.

10 de setembro, sábado (Cisjordânia-Palestina)

Acordei de boa e tomei aquele café da manhã fodão que até nutella tinha.

Às 7h veio o ônibus que nos levaria pelo tour do dia – Best of the West Bank. Em outras palavras, bora conhecer a Palestina.

A loucura começou a poucos quilômetros de Jerusalém. O ônibus parou NO MEIO DA ESTRADA. Um cara desceu, outro entrou. Era o guia. A explicação: “sou cidadão palestino, não posso entrar em Israel”. SENTE O DRAMA. E ainda nem tinha começado.

Que tal essa placa aqui, que aparece várias vezes pela estrada?

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Primeira parada foi Qasr-el-Yahud, o local de batismo de Jesus, no Rio Jordão. Um filete de água turva venerado como se fosse um oceano. Se liga na galera pra se batizar:

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Saca a escada do outro lado? É da Jordânia. Se ultrapassar toma tiro. Oriente Médio é loucura.

 Próxima parada: Jericó. A cidade mais antiga do mundo. Há historiadores que discordam, mas a placa tá lá:

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DEZ MIL ANOS. É tempo pra caralho.

Além de antiga, é a cidade mais baixa do mundo. Está a 1300 metros ABAIXO DO NÍVEL DO MAR. Praticamente o inferno.

Andamos pelas ruínas da cidade antiga, mas tava um calor de 48ºC (!), não tava rolando.

Por ser tão abaixo do nível do mar, NÃO EXISTE BRISA. É um calor sem igual nessa desgraça de cidade. Sem brincadeira. O guia falou que mesmo no inverno rigoroso (rysos), nunca cai abaixo de 30ºC. HAHA. DEUS ME LIVRE.

Próxima parada: Ramallah, a capital da Palestina. No caminho, esse visual de aridez infinita.

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Visitamos em primeiro lugar a tumba de Yasser Arafat.

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Árabe, não trabalhamos. Mas diz algo como “lutou pela paz”, “líder palestino” e as datas de nascimento e morte (nasceu em 1929, 2004 morreu).

Sim, sou a ridícula que tira foto com os guardas que fazem a segurança do túmulo.

É difícil falar de Israel, Palestina, Shimon Perez, Yasser Araf sem tomar partido. É terrível o quanto de desgraça aconteceu com o povo judeu ao longo dos séculos. É terrível tomar o país alheio e dizer “ó, judeus, tá aqui sua terra prometida”. É terrível o conflito permanente e a sensação de guerra constante no Oriente Médio – algo que nós, brasileiros, não temos A MENOR IDEIA. A guerra está arraigada na cultura árabe e judia. Na cultura brasileira, guerra é algo distante. Imaterial, até.

Enfim. Isso tudo pra dizer que é foda meter o bedelho.

Enfim, centro de Ramallah.  TODA A LOUCURA ÁRABE EM SUA ESSÊNCIA. Calor infernal, trânsito, muçulmanos, barulho, caos.

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A cidade estava uma bagunça e nosso grupo tinha quase 40 pessoas (a maioria alemães e suíços, eu a única brasileira, AMÉM). Foi um grande desafio andar pela cidade, já tão abarrotada, sem perder ninguém.

Ramallah é uma típica cidade árabe. Nada mais a acrescentar aí.

Foi por lá que almoçamos. Num restaurante abafado e bem típico, enquanto todos comiam esfihas e zaatar (quero, amo!), fomos agraciados com um sem graça arroz com frango. Decepção. Amo comida árabe legítima! Mas enfim.

Próxima parada era Belém. Nesse trajeto há muitos grafites do Banksy, como esse:

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Bom. Belém.

O clima lá é pesado, ainda que seja (acredita-se), o local de nascimento de Cristo.

É BEM NA FRONTEIRA com Israel e é lá que ficam os muros separando os estados de Israel e Palestina.  É uma vibe pesadíssima. O Muro de Berlim é pesado, mas esse é pior: é algo atual. É um conflito permanente. Os barulhos de explosões são quase diários e nós, turistas, recebemos instruções ao adentrar a área. O guia passa a tarde no celular pra saber se está tudo bem. É tenso de verdade.

Mas a parte palestina do muro virou uma galeria  céu aberto. São quilômetros de mensagens contra a guerra, contra a tirania. É emocionante. Tirei poucas fotos, mas todas valem o post:

Ainda em Belém, fomos a uma doceria típica. FINALMENTE COMIDA ÁRABE \o/

Eu não tenho a mais puta noção de como chame esse doce, mas leva mussarela de algum bicho estranho da região, pistache, mel e macarrão fio de anjo. ISSO É FRITO E QUENTE.

(update) Parece que achei, chama Knafeh essa obesidade mórbida. É a versão árabe do cheesecake. É uma delícia, mas EXTREMAMENTE pesado. E é uma gorda quem vos fala, tenho autoridade. hahaha

Comi inteiro, pois ÚNICA OCASIÃO NA VIDA.

Uma rua no centro de Belém.

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Atenção para o nome dessa rua:

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ESTAMOS NO CENTRO DE BELÉM, PALESTINA, ORIENTE MÉDIO, E A RUA TEM NOME EM ESPANHOL. Não sei lidar. E não lembro da explicação. *.*

Próxima parada: Basílica da Natividade, Belém. Local onde Cristo nasceu (ou não, parece que dependendo da corrente do cristianismo, o lugar difere). Enfim.

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O caos. Muita gente. Calor do inferno. E a igreja desce escadas. É QUENTE DEMAIS.

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Eis o pico onde Jesus Cristo nasceu (de acordo com os católicos).

Também dei minha ajoelhada e ~pensei positivo~. Mal não faz, né?

E esse foi a última parada do nosso day tour pela Palestina.

Triste, mas acho que fiquei devendo. Não consegui colocar em palavras o que senti pisando no Palestina. Foi foda. Intenso. Triste. Único.

Depois disso voltamos para o hostel. Chegamos no começo do anoitecer.

Tomei merecido banho e fui pro bar tomar umas cervejas. Subi no meu quarto pra pegar minhas coisas e sair atrás de jantar. Tô lá e batem na porta. STEFAN, o alemão do dia anterior. Chegou agarrando. Preguiça. Falei para me encontrar no bar mais tarde, pq eu ia sair pra jantar. Disse que ok.

Saí.

Se na noite anterior as ruas de Jerusalém estavam às moscas, o day after do Shabat era a festa total. TODO MUNDO na rua. Festa, Cantoria. Muitos, muitos jovens. Um clima de AZARAÇÃO. Eu sei que a palavra soa idosa, mas os jovens de Israel usam vestidos abaixo dos joelhos/calça e camisa social na night de 35ºC. Loucura.

Ah, sim. É rara a comercialização de bebida.

Fiquei ali na praça observando o movimento enquanto devorava meus Falafels.

Voltei pro hostel, tomei mais uma cerveja no bar (o alemão não apareceu, PQ SERÁ NÉ). E fui dormir.

10 de setembro, domingo

Tomei café da manhã correndo e fui esperar o transfer pro aeroporto. Demorou um século – a ponto de eu tomar um novo café da manhã #gorda

Cheguei ao aeroporto 10 min antes do combinado com meu pai e tentei fazer nosso check-in. O sistema não aceitou. Esperei.

Passaram 15 min da hora combinada. 30 min. 45 min. MEU PAI NÃO É DE ATRASAR.

Morreu, pensei. Deixa eu fazer o checkin, entrar na sala de embarque, que lá tem wi-fi e tento ver o que fazer, pensei. SOU PÉ NO CHÃO, DESCULPA SE PAREÇO INSENSÍVEL.

Entrei na fila do check-in. PUTA FILA.

Mais meia hora passa. Falta 1h30 pro voo, 40 min pro embarque. Faltavam 5 pessoas para eu ser atendida. E MEU PAI APARECE EXASPERADO E FURIBUNDO. Aparentemente ele teve problema em TODOS os controles de imigração em q passou. Israel queria saber pq só ficaria 2 dias. E pq só iria à Jordânia. E pra eles entenderem que: a) ele já conhecia as principais atrações de Israel; b) a passagem estava o equivalente a 300 dólares ida e volta; c) ele não poderia dispor de mais de 2 dias para essa viagem.??? Israel encrencou. E feio. Raio-xizaram até as cuecas dele. Num grau tão foda que ele desistiu da próxima aventura louca dele, que estava marca para dali 2 meses. Traumatizou.

Mas ele tava lá. Num humor do cão, mas tava. Fizemos o check-in, embarcamos.

Voo MARAVILHOSO – 14h de voo, inteiro DIURNO. Céu claro em toda a Europa. Vimos a Turquia, vimos Praga, vimos cidades da Alemanha. Só no Oceano que zoou o tempo e ficou encoberto. Porém, aconteceu.

Mas também aconteceu, ali pela região da Islândia, de um outro avião emparelhar com o nosso, como se estivesse apostando corrida, A DEZ MIL METROS DE ALTITUDE E 900 KM/H. Juro que fiquei com medo. Tava muito, muito perto. filmei:

A chegada ao Canadá foi linda. Sobrevoamos toda a região dos lagos, num belo dia de verão. Tava da hora:

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Cadê os ursos e a neve, né? Canadá também é verdinho!

Bom, pousamos. Espera até o próximo voo. Longa. E ainda atrasou 2h.

Pousamos no Brasil com 2 horas de atraso. 12h. Eu precisava estar no trabalho – Itaim Bibi – às 14h. Estava a incontáveis horas (meu relógio cronológico pifou aí) sem banho, mas basta pensar que tomei banho ao acordar, em Jerusalém, às 5h da manhã. 6h a mais que o Brasil. Fui tomar banho de novo às 13h e pouco do dia seguinte, em casa.

UMA MARAVILHA.

E fui trabalhar.

Muito a fazer.

Tô velha pras essas coisas.

 

1 saudade: #CopaMaravilhosa

Já se passaram 2 anos e meio e a certeza é cada vez mais forte: a Copa do Mundo no Brasil foi um dos melhores períodos da minha vida. Um mês inteiro de felicidade ilimitada.

Se tem uma coisa que me dói é conversar com alguém que diz, com orgulho, que não ligou a mínima para a Copa. “Foi bom para dormir” e coisas do gênero. Me dói, de verdade. Além da dor, é pena: essa pessoa não saboreou a alegria ímpar que só uma Copa no Mundo no país do futebol é capaz de proporcionar. Mais: uma Copa do Mundo no país que é conhecido por sua espontaneidade, por sua forma informal de tratar a tudo e a todos, de rir da própria desgraça.

Um dos lemas dos manifestantes anti-copa era “Copa Pra Quem?”. A Copa passou e podemos responder com segurança: COPA PARA TODOS NÓS. FOI LINDO.

Antes de mais nada, recomendo fortemente a leitura desse texto. Ia destacar um trecho, mas o artigo é todo maravilhoso. Leiam. Aliás, leiam todos os textos relacionados à Copa postados nesse site. Dá vontade de abraçar o computador, de tanta saudade ❤


Voltemos no tempo. Em 2007, quando foi decidido que o Brasil sediaria a Copa, eu fiquei genuinamente emocionada. Tal como Lula, Pelé e afins. Sim, depois caiu a ficha: corrupção, mandos e desmandos da Fifa, toda aquela podridão que estamos cansados de saber.

Aí o tempo passou, ~o gigante acordou~, veio toda a indignação. De todas as partes. Direita, esquerda, petralhas, coxinhas, corintianos, palmeirenses, flamenguistas, família, todos. Como um país cheio de gente pobre e carente de infraestrutura até em suas cidades mais ricas sediaria um grande evento como esses?

Não vou me alongar. Todos sabemos disso tudo e estou longe de ser uma boa pessoa para falar a respeito.

Só que eu nunca duvidei de que aconteceria e de que seria incrível.

Esse sentimento esteve guardado lá no fundo. Tão fundo que cheguei a esquecer. Até porque, imagine alguém dizendo, em junho de 2013, que a Copa seria incrível?

E aí chegou a Copa.


12 de junho de 2014

Acordei no feriado de 12 de junho, o dia dos namorados mais Dia dos Solteiros de todos os tempos, me sentindo diferente. (Ok, não só pela Copa, mas…)

No caminho para casa, senti a atmosfera de São Paulo totalmente diferente do que conheci até então, naqueles meus 28 anos de existência nessa cidade que a cada dia me surpreende.

Mas aquele clima me surpreendeu MAIS.

Todo mundo na rua. Vestindo amarelo (numa época em que usar a camiseta da seleção não tinha conotação política). Feliz. Genuinamente feliz.

Eu não sou a maior fã de futebol. Já tive fases de gostar, fui a estádios algumas vezes, mas nunca torci para ninguém e tampouco tive grandes emoções por conta do esporte.

Também não me lembro de estar tão eufórica com uma Copa do Mundo. As Olimpíadas sempre me motivaram, mas não a Copa do Mundo.

Em 2002, na Copa no Japão/Coreia do Sul, muitas vezes eu não me dava ao trabalho de acordar para assistir aos jogos no meio da madrugada. Em 2006, assisti a grande parte dos jogos sozinha em casa e a única coisa realmente interessante era ir para a aula na faculdade depois do jogo e ver todo mundo bêbado, até os professores. Em 2010, eu estava na Europa. No primeiro jogo do Brasil eu estava no trânsito para ir ao aeroporto. No segundo, estava em um passeio na Holanda e nem me importei. No terceiro, estava no show do Paul McCartney na Escócia com papai.

Diante desse cenário de total descomprometimento com o futebol, qual não foi minha surpresa em me pegar, logo na abertura da Copa, TOTALMENTE APAIXONADA E ARREBATADA? Pela Copa, é claro.

Agora que o evento passou faz tempo, sou só amor para falar a respeito. Assisti a grande parte dos jogos, sabia tudo o que estava acontecendo, conhecia os jogadores, torcia, sofria, pensava nisso o tempo inteiro.

Mas o grande lance não estava apenas dentro dos estádios. E é aí que o bicho pega. O clima das ruas nas cidades-sede era a coisa mais linda, impressionante, misturada, heterogênea e tantas outras palavras indescritíveis (de novo, leiam as matérias do site Trivela). Me dá um nó na garganta de tanta emoção. E tenho a mais absoluta certeza que foi a melhor Copa de todas.

Porque o povo brasileiro, apesar de todos os pesares e de todo o viralatismo das elites, é um povo maravilhoso, que faz o possível e o impossível para receber bem o turista – as Olimpíadas mostraram isso novamente.

Não sabíamos quem estava mais feliz com tudo: o gringo deslumbrado que descobriu as maravilhas e bizarrices da cultura brasileira ou os brasileiros descobrindo os gringos que queriam descobri-los etc etc etc ad infinitum.

Sabe qual é a merda de falar de algo que nos apaixona? É que as palavras não são suficientes. Acho que não estou fazendo jus ao que essa Copa proporcionou à minha vida. E à de outros. Cansei de ver amigos e conhecidos clamando aos quatro ventos o quanto a nossa copa foi sensacional, única.

Logo no 4º dia de Copa a imprensa internacional divulgou o primeiro texto falando bem – muito bem! – da Copa. Foi esse aqui, do Yahoo (o link original não existe mais)

Uma Copa de surpresas dentro do campo. Goleadas, grandes craques, hinos à Capela. América Latina viva e forte. Torcedores encantadores e encantados. Gringos de todas as partes invadindo todos os cantos de nossas cidades. Holandeses na Guarapiranga, Ingleses em Manaus, Argentinos em tudo que é canto, torcidas apaixonadas por suas seleções e curtindo TUDO que tem direito no Brasil.

Isso sem falar nas piadas incríveis, os memes, nas torcidas, na vibração.

O que tanta gente que diz que a Copa nem foi tudo isso jamais entenderá: o evento não se resumiu a futebol. Ainda que as partidas tenham sido, em grande parte, surpreendentes e maravilhosas, a Copa foi um momento ÚNICO na história do Brasil e de cada um de nós. Se você não viveu isso, APENAS SINTO. Sério.

Isso porque eu nem tive a oportunidade de ir ao estádio, assistir uma partida in loco! Imagina se tivesse ido!

A Copa foi maravilhosa. Obrigada por tudo. Nunca vou te esquecer, te amo eternamente ♥

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Foto tirada logo após o 7×1

♪ There’s a hole in my soul ♪

“E aí, tudo bem?”

Estou com uma imensa dificuldade de responder a essa simples pergunta retórica. Não tá tudo bem. Tô mal, tô triste, tô desmotivada, poucas coisas me animam. Só queria que o mundo parasse um pouco para eu ficar na cama chorando por dias seguidos. Não, não tô bem.

Não consigo lembrar de um período tão prolongado em que eu passasse tanto tempo chorando ou reprimindo choro.

Já tive muitas crises de tristeza na vida, mas não dessa forma. Há meses não tenho ânimo para absolutamente nada. Para terem uma noção: desisti de viajar no fim do ano. Não quero ir pra lugar nenhum, viagens já não são suficientes para diminuir o buraco dentro de mim.

Para toda a humanidade, tá tudo ok na minha vida. De fato, não posso reclamar da grande maioria das coisas. Trabalho? Não amo, mas é o melhor que eu poderia ter, sem a menor sombra de dúvida. Não me sobrecarrega, não me estressa, não me mantém acordada a noite. Dinheiro? Moro com meus pais, então meus gastos são basicamente comigo, tipo pagar terapia (sim, desde o começo do ano tô na terapia), internet, coisas do dia a dia. Como sou filha única, vou herdar tudo (não é muito, mas o suficiente para eu não morrer de fome na velhice). Além disso, guardo uma grana para eventualidades. Amigos? Ok. Tenho muito menos contato com eles do que gostaria, mas eles são muito importantes para mim. Aliás, os botecos não tão frequentes com eles são alguns dos poucos momentos em que não estou na melancolia completa (sim, o álcool ajuda muito). Saúde? Bem, obrigada. Família? Nem bom nem ruim. Vamos nos tolerando, algumas brigas tensas, períodos de calmaria. Comparando com os períodos realmente horrorosos que já vivemos, tá até ok.

O que nos resta? Sim, sim. Amor. Afeto.

Aí você vem me dizer: TODO ESSE DRAMA POR CAUSA DE HOMEM?

Se você realmente quer fazer Olimpíadas de Sofrimento, talvez possa parar por aqui e vazar.


Olha só: são 30 anos, provavelmente metade da minha vida, sem afeto, carinho, amor. De nada, de ninguém. Exagero? Você realmente precisa ler/reler esse post e esse post para tentar compreender como foi minha infância e minha adolescência. Claro que meus pais têm consideração por mim, gostam de mim da forma deles. Tô morando com eles até agora, né? Mas nunca expressaram isso. Nunca tive alguém com quem contar, para quem desabafar, sabe?

Daí a pessoa cresce e começa a desejar afeto. Deseja se sentir amada por alguém. Só que isso nunca acontece. 30 anos desejando um pão inteiro e não recebendo nem migalhas.

Daí a pessoa desenvolve uma compulsão alimentar fodida. O chocolate (inteiro) antes de dormir é o símbolo do que eu mais sonho: alguém para me abraçar antes de eu pegar no sono, e dizer que vai ficar tudo bem. Comfort food.

E daí a pessoa engorda, autoestima já no chão fica ainda pior… etc etc.


Semana passada fui visitar o bebê recém-nascido de uma grande amiga. Assisti o vídeo do parto (humanizado, em casa, com doula e tal). Emocionei. Chorei. Na hora, a emoção foi pela felicidade deles, pela realização do sonho deles. Assim como chorei no casamento. Em todos os casamentos que já fui, na verdade. Chorei até vendo o primeiro beijo de uma amiga no cara por quem ela era apaixonada há anos. A felicidade alheia me comove muito. Às vezes até parece que eu fico mais feliz pelas pessoas do que elas mesmas!

Só que, depois, voltando sozinha pra casa, bateu a realização de que eu não sei se quero casar e ter filhos. Eu não me permito sonhar com isso. Não consigo nem ter alguém pra estar ao meu lado, me abraçar e me sentir amada! Que dirá CASAR E TER FILHO. Daí fiquei revendo aquele vídeo do parto na cabeça… E pensei: eu até poderia ser mãe solteira. Mas QUEM estaria do meu lado no parto? Aliás, quem estaria do meu lado a qualquer momento da minha vida?
Isso mesmo. Ninguém. Não tenho ninguém. Essa dor da solidão é avassaladora e ocupa um espaço cada vez maior dentro de mim.

E é claro que isso afasta ainda mais as pessoas.


Por tanto, sou extremamente vulnerável e carente. Se alguém me dá uma migalha de afeto, eu me jogo de corpo inteiro. E sempre penso “dessa vez será diferente”. Mas nunca é. De modo que cada decepção dói de uma forma quase insuportável. Me derruba.

Imagina. Cada cidadão com que saio, que parece se interessar por mim, pela minha vida, será inevitavelmente fonte de um sofrimento grande. Mais um pra conta. Mais um tijolinho na muralha de amargura, que é como eu me sinto.

Não era pra gente sofrer cada vez menos com essas coisas? Criar uma casca, ou algo assim? Talvez, se você é uma pessoa “normal”. Mas pra mim, não. Me sinto cada vez mais sozinha, cada vez pior.

E daí, com esse psicológico cagadíssimo que só piora dia após dia, achei uma boa ideia me envolver com alguém que já tinha uma mínima noção do meu estrago emocional (geralmente as pessoas não tem ideia de como sou). Dói pra caralho pensar que das únicas DUAS boas semanas que tive em 2016, uma delas foi por causa dele. Pq? Acreditei mais uma vez que dessa vez seria diferente. “Ele me compreende. Pode me ajudar. Me dar um apoio”.

AHÃN. VAI NESSA, TROUXA.

Não vou entrar em muitos detalhes, disse que não iria o expor e não vou, até pq ele não foi um babaca.

Ele agiu como boa parte da população age com pessoas que carregam uma dor muito grande: se distanciando. Compreendo. Não é fácil lidar com toda a carência e atenção que eu demando. Sei que me excedi. Praticamente perdi contato com uma pessoa que sempre foi legal comigo, que me fazia bem.


Sabe o que é foda? É saber que muita gente (no universo de meia dúzia que o google vai mandar pra cá por conta de alguma tag bizarra) que vai ler isso vai achar que sou ridícula e que o drama é, sim, por causa de homem. Olha, pode até ser. A rejeição de toda a espécie humana por mim. Aí faz sentido.

Não guardo (tanta) mágoa de um bofe ou outro. Guardo mágoa da somatória de toda a rejeição que já sofri em todas as relações familiares, amorosas e afetivas na vida.

Você tem noção do que é sentir inveja de um mendigo, que não tem um puto, fodido na vida, mas tá ali dormindo debaixo da marquise abraçado com outra fodida? Bem vindo à minha vida.


Hoje minha psicóloga me encaminhou para um psiquiatra, para confirmar o diagnóstico de depressão e me medicar.

Então. Não, não tô bem.

Malz aí o desabafo.

Às vezes sessões de 45 minutos de terapia são insuficientes…

O que aprendi sendo pedestre em São Paulo

Sempre gostei de caminhar. Experimentamos a cidade de uma forma muito diferente quando fazemos trajetos a pé. Reparo nas pessoas, nos estabelecimentos, na energia vibrante de São Paulo. Me sinto mais livre e relaxada.

São quase três anos fazendo a grande parte dos meus caminhos diários a pé. Trabalho, estudo, médicos, lazer.

Nesse período, aprendi bastante sobre a mobilidade em São Paulo. Compreendi, basicamente, que TODO MUNDO MERECE UM BELO PUXÃO DE ORELHAS.

O pedestre é o elo mais fraco da cadeia. Só perde para pedestres com mobilidade reduzida, claro (deficientes, crianças e idosos). Como pedestre, tenho uma visão singular do que acontece no tráfego urbano da minha cidade. Segundo esse ponto de vista, resumi MUITO BREVEMENTE três comportamentos que me enervam:

Ciclistas se acham os superpoderosos. Sou a favor de bicicleta, por mim coloca ciclovia até no meio do meu prédio. Mas os ciclistas precisam compreender que se o farol está aberto para PEDESTRES, ele NÃO É UM PEDESTRE, por tanto, deve aguardar o farol abrir. Cruzo diariamente várias das mais movimentadas ciclovias da cidade, dentre elas a da avenida Faria Lima, e afirmo: a grande maioria dos ciclistas NÃO RESPEITA SINALIZAÇÃO PARA PEDESTRES.
Sabemos que uma cidade como São Paulo necessita de todo esforço possível no sentido de incentivar o uso do transporte coletivo e da bicicleta. Só que quem anda de bicicleta esquece-se de que não é o elo mais fraco da cadeia: respeitar limites de velocidade e sinalização não são dever apenas dos motoristas, mas dos ciclistas também, ok?

2-  Melhorou muito a consciência de motoristas de carros quanto aos pedestres e aos ciclistas, com duas exceções: taxistas e motoristas de carros de luxo. Eles realmente pensam que a rua os pertence. Acham que tudo bem cruzar sinal vermelho. Pensam que a prioridade é sempre deles. Afinal, provavelmente estão indo a uma reunião com o Obama, buscar o Papa no Aeroporto, o tempo deles é muito importante e eles não ligam a mínima para o que se passa fora de seus carros insulfilmados.

3- PEDESTRES SÃO FOLGADOS E INDISCIPLINADOS. Claro, não vou limpar a barra da minha categoria: ninguém em São Paulo merece mais bronca do que o pedestre. Atravessam correndo quando o sinal está verde para carros; andam nas ciclovias e reclamam se ciclistas quase esbarram; caminham digitando no celular atrapalhando todo o fluxo de pedestres da via. Fico particularmente indignada com o comportamento dos pedestres na região da Avenida Paulista. Não respeitam faróis, não respeitam faixa de pedestre, não ligam a mínima para nada! Será que uma força oculta determina que todo o pedestre na Paulista seja um babaca irresponsável?

Mais sobre a vida a pé

Sempre gostei muito de andar. Quando vim morar em Pinheiros, tornei meus próprios pés o meu principal meio de transporte: quando trabalhei em Higienópolis/Centro, diversas vezes voltei para casa andando (7km). Quando trabalhei em Osasco, fazia parte do trajeto (5Km) andando e o resto de ônibus. Quando vim trabalhar no Itaim Bibi, um bairro sem transporte sobre trilhos e com ruas 95% do tempo congestionadas, desencanei totalmente do transporte público e fiz minha opção definitiva: daqui em diante, farei tudo a pé.

Considero “andáveis” trajetos de até 7km e que não exijam cruzar as marginais. É notável a falta de segurança nas passarelas de pedestres que cruzam as marginais Pinheiros e Tietê.

De acordo com esse critério, excluo boa parte da população paulistana: é óbvio que pouquíssimos têm o privilégio de ter opções de moradia, trabalho, educação e lazer a um raio “andável”. É impossível trocar o transporte público ou o automóvel pelos próprios pés. Calçadas em péssimo estado, má sinalização, iluminação pública falha, diversos trechos inóspitos ou até impossíveis de se fazer andando e insegurança são as principais razões pelas quais a maioria de vocês vai continuar evitando grandes trajetos a pé. E com razão.

Acontece que todos são pedestres para pequenos trajetos: seja para ir comprar pão na padaria perto de casa, para passear com o cachorro ou para ir almoçar durante o dia. São nesses momentos que as pessoas precisam se ligar que são pedestres e agir como tal, sem colocar a própria vida em risco. Respeitar farol e prestar atenção no que acontece ao seu redor não vai afetar sua rotina, juro pra você! Desgrudar os olhos do whatsapp por 5 minutos não vai causar uma hecatombe, esteja certo disso.

Aproveitando o tema

Uma coisa que me incentiva ainda mais a fazer meus trajetos a pé é um aplicativo que transforma as atividades ao ar livre em milhas. Ok, você precisa MUITO para acumular meia dúzia de pontos, mas para quem está frequentemente batendo perna pela cidade, acho que vale muito a pena. Chama Mova Mais. Tô a disposição para dúvidas sobre o assunto e para auxiliar no uso do app 🙂