“E aí, tudo bem?”
Estou com uma imensa dificuldade de responder a essa simples pergunta retórica. Não tá tudo bem. Tô mal, tô triste, tô desmotivada, poucas coisas me animam. Só queria que o mundo parasse um pouco para eu ficar na cama chorando por dias seguidos. Não, não tô bem.
Não consigo lembrar de um período tão prolongado em que eu passasse tanto tempo chorando ou reprimindo choro.
Já tive muitas crises de tristeza na vida, mas não dessa forma. Há meses não tenho ânimo para absolutamente nada. Para terem uma noção: desisti de viajar no fim do ano. Não quero ir pra lugar nenhum, viagens já não são suficientes para diminuir o buraco dentro de mim.
Para toda a humanidade, tá tudo ok na minha vida. De fato, não posso reclamar da grande maioria das coisas. Trabalho? Não amo, mas é o melhor que eu poderia ter, sem a menor sombra de dúvida. Não me sobrecarrega, não me estressa, não me mantém acordada a noite. Dinheiro? Moro com meus pais, então meus gastos são basicamente comigo, tipo pagar terapia (sim, desde o começo do ano tô na terapia), internet, coisas do dia a dia. Como sou filha única, vou herdar tudo (não é muito, mas o suficiente para eu não morrer de fome na velhice). Além disso, guardo uma grana para eventualidades. Amigos? Ok. Tenho muito menos contato com eles do que gostaria, mas eles são muito importantes para mim. Aliás, os botecos não tão frequentes com eles são alguns dos poucos momentos em que não estou na melancolia completa (sim, o álcool ajuda muito). Saúde? Bem, obrigada. Família? Nem bom nem ruim. Vamos nos tolerando, algumas brigas tensas, períodos de calmaria. Comparando com os períodos realmente horrorosos que já vivemos, tá até ok.
O que nos resta? Sim, sim. Amor. Afeto.
Aí você vem me dizer: TODO ESSE DRAMA POR CAUSA DE HOMEM?
Se você realmente quer fazer Olimpíadas de Sofrimento, talvez possa parar por aqui e vazar.
Olha só: são 30 anos, provavelmente metade da minha vida, sem afeto, carinho, amor. De nada, de ninguém. Exagero? Você realmente precisa ler/reler esse post e esse post para tentar compreender como foi minha infância e minha adolescência. Claro que meus pais têm consideração por mim, gostam de mim da forma deles. Tô morando com eles até agora, né? Mas nunca expressaram isso. Nunca tive alguém com quem contar, para quem desabafar, sabe?
Daí a pessoa cresce e começa a desejar afeto. Deseja se sentir amada por alguém. Só que isso nunca acontece. 30 anos desejando um pão inteiro e não recebendo nem migalhas.
Daí a pessoa desenvolve uma compulsão alimentar fodida. O chocolate (inteiro) antes de dormir é o símbolo do que eu mais sonho: alguém para me abraçar antes de eu pegar no sono, e dizer que vai ficar tudo bem. Comfort food.
E daí a pessoa engorda, autoestima já no chão fica ainda pior… etc etc.
Semana passada fui visitar o bebê recém-nascido de uma grande amiga. Assisti o vídeo do parto (humanizado, em casa, com doula e tal). Emocionei. Chorei. Na hora, a emoção foi pela felicidade deles, pela realização do sonho deles. Assim como chorei no casamento. Em todos os casamentos que já fui, na verdade. Chorei até vendo o primeiro beijo de uma amiga no cara por quem ela era apaixonada há anos. A felicidade alheia me comove muito. Às vezes até parece que eu fico mais feliz pelas pessoas do que elas mesmas!
Só que, depois, voltando sozinha pra casa, bateu a realização de que eu não sei se quero casar e ter filhos. Eu não me permito sonhar com isso. Não consigo nem ter alguém pra estar ao meu lado, me abraçar e me sentir amada! Que dirá CASAR E TER FILHO. Daí fiquei revendo aquele vídeo do parto na cabeça… E pensei: eu até poderia ser mãe solteira. Mas QUEM estaria do meu lado no parto? Aliás, quem estaria do meu lado a qualquer momento da minha vida?
Isso mesmo. Ninguém. Não tenho ninguém. Essa dor da solidão é avassaladora e ocupa um espaço cada vez maior dentro de mim.
E é claro que isso afasta ainda mais as pessoas.
Por tanto, sou extremamente vulnerável e carente. Se alguém me dá uma migalha de afeto, eu me jogo de corpo inteiro. E sempre penso “dessa vez será diferente”. Mas nunca é. De modo que cada decepção dói de uma forma quase insuportável. Me derruba.
Imagina. Cada cidadão com que saio, que parece se interessar por mim, pela minha vida, será inevitavelmente fonte de um sofrimento grande. Mais um pra conta. Mais um tijolinho na muralha de amargura, que é como eu me sinto.
Não era pra gente sofrer cada vez menos com essas coisas? Criar uma casca, ou algo assim? Talvez, se você é uma pessoa “normal”. Mas pra mim, não. Me sinto cada vez mais sozinha, cada vez pior.
E daí, com esse psicológico cagadíssimo que só piora dia após dia, achei uma boa ideia me envolver com alguém que já tinha uma mínima noção do meu estrago emocional (geralmente as pessoas não tem ideia de como sou). Dói pra caralho pensar que das únicas DUAS boas semanas que tive em 2016, uma delas foi por causa dele. Pq? Acreditei mais uma vez que dessa vez seria diferente. “Ele me compreende. Pode me ajudar. Me dar um apoio”.
AHÃN. VAI NESSA, TROUXA.
Não vou entrar em muitos detalhes, disse que não iria o expor e não vou, até pq ele não foi um babaca.
Ele agiu como boa parte da população age com pessoas que carregam uma dor muito grande: se distanciando. Compreendo. Não é fácil lidar com toda a carência e atenção que eu demando. Sei que me excedi. Praticamente perdi contato com uma pessoa que sempre foi legal comigo, que me fazia bem.
Sabe o que é foda? É saber que muita gente (no universo de meia dúzia que o google vai mandar pra cá por conta de alguma tag bizarra) que vai ler isso vai achar que sou ridícula e que o drama é, sim, por causa de homem. Olha, pode até ser. A rejeição de toda a espécie humana por mim. Aí faz sentido.
Não guardo (tanta) mágoa de um bofe ou outro. Guardo mágoa da somatória de toda a rejeição que já sofri em todas as relações familiares, amorosas e afetivas na vida.
Você tem noção do que é sentir inveja de um mendigo, que não tem um puto, fodido na vida, mas tá ali dormindo debaixo da marquise abraçado com outra fodida? Bem vindo à minha vida.
Hoje minha psicóloga me encaminhou para um psiquiatra, para confirmar o diagnóstico de depressão e me medicar.
Então. Não, não tô bem.
Malz aí o desabafo.
Às vezes sessões de 45 minutos de terapia são insuficientes…