Sobre emagrecer & o papel do chocolate na minha vida

Basta ler um mísero post desse blog para saber que eu sofro de falta de auto-estima crônica, muito em parte por causa do excesso de gordura corporal. Se liga no tamanho da minha barriga/braços/bunda em fotos recentes tiradas quando da visita da querida Intense a São Paulo:

Que terror. Não surpreende que tanta gente no busão me ofereça o lugar.

Faço dieta desde que nasci. Sempre sofri MUITA pressão dos meus pais pra emagrecer. Fora o bullying contínuo em todo o ensino fundamental, padrão de beleza “loiro, magro, de olhos azuis” que sempre me rondou (literalmente)… Daí que passei GRANDE parte da minha vida até pouco tempo atrás achando que a razão de todos os meus problemas era pura e simplesmente a gordura. O mundo nos faz achar que a estética é tudo, e que se você emagrecer, automaticamente anula todos os problemas que tem na vida.

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Uma grande amiga me aconselhou esses dias a guardar dinheiro para fazer uma cirurgia – redução do estômago “light” (aquela que não tira parte do estômago, só põe um anelzinho) – já que não sou obesa mórbida, não tenho problemas de saúde por causa da gordura, o plano de saúde não paga.

Uma cirurgia dessas custa de R$ 10 a R$ 15 mil. E uma vida de possíveis refluxos, além dos sempre presentes riscos que uma cirurgia oferece.

Uno a seguir parte do argumento que dei à minha amiga, e pensamentos meus conforme vou escrevendo.

Nunca me passou pela cabeça fazer qualquer tipo de cirurgia. Até porque ser magra é paliativo: vou continuar com os mesmos problemas que sempre tive, as mesmas crises. Gorda ou magra.

Eu tenho uma vida saudável: como muita salada, não abuso de sal, raramente como fritura. Faço exercício de vez em quando – ando muito por aí. O que me estraga é o chocolate. Ele é o responsável por corromper minhas dietas. Ele, o remédio ineficaz mas necessário para as minhas crises de baixa auto-estima, de solidão, de decepções e frustrações. Ele, que não completa, mas preenche um pequeníssimo espaço dentro de mim – espaço este repleto de crises BRABAS na família durante toda a infância e adolescência, bullying e isolamento, recusas de amigos a convites meus, ser constantemente preterida pelos meus amigos, quando sempre estive disposta a tudo e mais um pouco por eles, repleto por críticas, por perguntas constantes se estou grávida, por alguma tia-avó alheia dizendo que eu seria bonita se fosse magra, por meu salário continuar sendo o menor dentre a maioria das pessoas que conheço, por ver amigos namorando e eu sempre sozinha…. e mais, muito mais, muito muito mais.

Sei que muda a vida de muita gente essa cirurgia. Já ouvi relatos muito positivos. Mas isso não é pra mim. Até porque cada um sabe onde o calo aperta, né? Meu lance tem muito drama envolvido. Não é só a gordura. A gordura é a aparência externa do que há por dentro, se é que me entende.

Já emagreci muito na vida. Já corri 2h seguidas diariamente por meses a fio, já perdi 20 Kg. Daí nada mudava na minha vida, ia deslizando da dieta e, quando via, lá estava eu na casa dos 80 Kg de novo. Sempre assim. Nunca tive problema de perder peso. Só não acho motivação para seguir em diante com o regime pelo resto da vida – não vejo compensação duradoura na minha alma – o fato de ser magra não ocupa um espaço semelhante ao que ocupa em mim o ato de comer um chocolate.

É bom entrar numa calça 2 números menor. Mas não é suficiente para se sentir COMPLETA, eternamente completa.

Muitos dos gordos que fazem essa cirurgia são justamente o meu oposto: se sentem mal por dentro porque – e somente porquê – são gordos. Eles se sentem mal por dentro porque estão mal por fora. E eu estou e me sinto mal por fora porque estou mal por dentro.

Desde o ano passado, quando comecei minha dieta da proteína, perdi peso. Antes da dieta estava com 93,2, recorde máximo na vida. Perdi mais de 10 Kg.  Cheguei aos 80,8 Kg.

Lá por setembro comecei a desandar – comer mais, beber mais, ter orgias alimentares esparsas. Engordei 2, 3 Kg, mas nas semanas seguintes me controlava de novo para não voltar a engordar – e, se possível, emagrecer.

Comecei 2012 com 85 Kg – depois de beber muuuuita cerveja no fim do ano, panetones, muito carboidrato e pouco exercício.

Mas desde então estou super controlada. Como de tudo, exceto chocolate (em estado bruto – o que é minha perdição). Já comi pizza, bebi cerveja, tomei sorvete, comi pastel. Mas, enquanto resisto, passo longe do chocolate.

Também tenho andado muito mais. Agora pego o ônibus pra ir do trabalho pra casa uns 4 ou 5 pontos pra frente. Isso quando não ando metade do caminho até em casa – 1h de caminhada – ou simplesmente ando os 11,5 Km que separam meu trabalho da minha casa – fiz isso duas vezes em janeiro. Passei de uma atividade física “semi-ativa” para uma ativa.

Continuo controlando bem o carboidrato – aprendi muito bem que o carboidrato no corpo vira açúcar, e se aloja nos piores lugares – barriga, bunda, braços – além de colaborar no aumento da glicemia – causando mais pra frente diabetes & afins.

Não sei se já comentei, mas sabiam que se você nunca botar na boca um chocolate na vida, mas se entupir de carboidrato em todas as refeições  – abusando de macarrão, arroz branco, pão francês e afins – você TAMBÉM tem grandes chances de virar diabético? Interessante, né?

Com isso, chego ao fim de janeiro 3 Kg mais magra. Pelo simples expediente de diminuir o chocolate e reduzir um pouco o quanto como, e aumentando meus minutos diários de caminhadas.

Sem pressa, sem métodos revolucionários nem métodos excessivamente CAROS.

Alguns exemplos de como a gordura/magreza não são fenômenos decisivos na minha felicidade:

Na época do colegial, melhor época escolar da minha vida. Eu estava completa, porque estava diariamente com os meus amigos que eu amava – e que me amavam.

Meu peso: 80 e poucos.

2006, melhor época da minha vida – amigos por todas as partes, diversões, encontros, diversões e amores, não estive propriamente magra. Pesava uns 70 e muitos. Já que tinha com que preencher o espaço – amigos, amores e afins – o chocolate foi relegado a um segundo plano. Emagreci um pouco naturalmente – e ó que naquela época eu bebia que nem uma esponja!

Tô quase cabendo nessa calça aí de novo, 6 anos depois.

2008 foi um ano zuado. Trabalhei pra cacete, TCC, amigos distantes, cada vez mais adultos… Mas foi o ano em que cheguei aos 68 Kg, meu menor peso desde… sempre?

Isso foi em junho. Em setembro esta era a minha situação:

Quase todos os kilos perdidos no ano ganhos em 3 ou 4 meses. Felicidade? Só em foto, mesmo. Vivia irritada, comia Mc Donalds dia sim, dia também. Voltei aos 80 e com juros.

Então é isso, gente.

MAGREZA NÃO É SINÔNIMO DE FELICIDADE.

10 comentários sobre “Sobre emagrecer & o papel do chocolate na minha vida

  1. Paula disse:

    Olha, li esse post -fazia tempo que eu não lia teu blog – e entendo perfeitamente o que vc quer dizer com “emagrecer é um processo de dentro outra fora”. Porque se o problema está em como vc se sente não só em relação ao peso, de que vai adiantar só emagrecer?

    Eu não era gorda, nem magra. Só que sempre fui crian

  2. Paula disse:

    tentei comentar antes e fiz besteira, mas lá vai, sou persistente:

    entendo e concordo perfeitamente com vc. se o que vc sente é que reflete no corpo, a cirurgia só te causaria mais problemas, além do gasto!

    a questão é que a gente, mesmo que inconscientemente, tende a valorizar demais outras pessoas… e precisar delas.

    é difícil, mas tente ser egoísta e pensar sempre que cada vez que algum amigo te troca por outro compromisso, quem sai perdendo é ele. mesmo que no começo vc finja.

    minta pra vc até vc começar a acreditar na mentira! eu também não sou magra – estou também nas fotos com a @Intense – e minha bunda é maior que a sua, rs. mas mesmo assim eu gosto bastante de mim. porque sei que me esforço, não exagero na comida, bebida… deixo a desejar nos exercícios, admito. mas porque tou com o joelho machucado…

    sei lá, Ana. não quero dar lição de moral, juro. mas vc é inteligente, bacana e, pelo que a Intense diz maior legal. eu não consigo imaginar que isso -de ser gordinha -possa ser usado contra vc…

    Beijo.

    • anamyself disse:

      Que linda sua resposta, Paula!

      Já melhorei muito quanto a esse lance do egoísmo. Eu era pior.
      A distância dos meus amigos me tornou menos sensível. O problema é que isso dá mais importância ainda às vezes em que tento encontrá-los. Esses momentos, antes corriqueiros, agora tem um quê especial, pela raridade com que acontecem. E daí os convido para alguma coisa e eles dão pra trás. É um tapa na cara, uma declaração de que tanto faz como fez, para eles.

      Tenho aprendido a gostar de mim. Mas é um processo tão lento!

      Obrigada pelas palavras 🙂

  3. Ana, focando no lance do chocolate, já me senti muito assim, mas não só com chocolate. Comer doce às vezes me parecia a única forma de sair de uma angustia tremenda, uma injeção rápida de bem estar, bem no esquema de me sentir numa larica de drogada mesmo, só que a droga eram os doces.
    Como passou? só com remédio pra controlar a ansiedade. Agora vejo doces e nem dou bola, como ainda, mas não é a mesma coisa, não é a mesma larica.
    Bizarro, né?

    Qanto a relação magreza X felicidade. Eu não posso concordar mais! Pra provar estou eu aqui, magra, querendo engordar e cheia de crises existênciais.

    O fato é que temos que estar bem, como vou dizer, “espiritualmente”, pra aceitar o corpo que habitamos, seja ele como for (já assistiu A pele que habito? tem uma materia muito legal sobre o filme e essa questão de aceitação do corpo, do programa Saia justa da GNT. ((Foco, não trabalhamos)).

    OBS: Pode abrir parenteses dentro de parenteses? 😛

    • anamyself disse:

      Nossa, Bel, você me entende. Já pensei em ir num psiquiatra pra pedir uns remédios de ansiedade. Mas não sei se quero entrar em outro vício.

      Quanto a abrir parênteses dentro de parênteses, eu sigo a ordem da matemática: { [ ( ) ] } lembra? hhahaha

      Não vi A PELE QUE HABITO, não. Mas vou. E tb vou procurar essa matéria. 🙂

  4. Então.

    Eu não sei direito o que comentar pq sou bem desencanada disso. Talvez vc diga ‘ah pq vc é magra’, mas nem é, é pq sou desencanada mesmo…esse final de ano dei uma invocada pq engordei, mas eu fico tipo ‘morrerei gorda e feliz’ – bem o que vc tá falando, magreza não é sinônimo de felicidade. Eu simplesmente não aguento me impor um regime de doces, ou de refrigerante, ou do caralho a quatro pq não consigo me sentir feliz não podendo fazer algo que eu quero fazer. Mas, ainda assim, é diferente.

    É diferente pq vc não se sente bem por fora, pq não se sente bem por dentro…ao menos foi o que eu entendi. E nisso nós somos mto diferentes: ao menos agora, depois de tanta coisa e tanto tempo, eu me sinto bem por dentro. Sei que regime não vai fazer vc se sentir melhor, mas ao mesmo tempo não consigo dizer simplesmente que não há nada que possa ser feito. Como conversamos aquele dia (bebendo na Paulista) eu sempre acho que há algo que pode ser feito. Com auto-consciência, com terapia, com análise, não sei – e sei que pra dar esse conselho eu deveria saber. Minha saída foi terapia, anos de terapia. Não sei qual a sua. Acho que o mais difícil é isso: vc descobrir qual sua saída.

    Agora deixa eu fazer um comentário nada a ver: como eu sempre lia seus posts, lógico, eu ‘imaginava’ uma Ana. e a Ana que eu conheci é muito mais bonita do que a que eu imaginava. Sério mesmo. 😉

    • anamyself disse:

      Ooooohn, que linda! Obrigada! 🙂

      E eu te imaginava igualzinha! Linda, com aquela espécie de brilho que eu imaginava, e uma alegria e otimismo na vida. Só não imaginei que fosse tão tagarela! hahahahaha

      Concordo com você, a questão, no fim, se resumo a cada um achar sua saída. Para uns é a cirurgia. Para outros, religião. Para outros, ainda, terapia. Minha primeira terapia não rolou muito como eu esperava. Quem sabe faço em breve nova tentativa?

  5. Bom, eu nunca fui muito gorda de fato. No máximo gordinha quando pequena. Só que nos últimos meses eu dei uma engordada (4 kg). A vida não tem sido muito legal comigo. Fiquei desempregada, fui embora do Rio e voltei a morar com os meus pais (o que sugnifica que tem sempre comida pronta rs). E assim engordei. Comigo a vida tá uma merda? Eu como.
    Nunca tive problemas com o peso pq eu comia e logo depois perdia e tava tudo certo. Só que agora eu não sei. Não sei se é pq eu to ficando velha ou sem trabalhar, o fato é que não estou perdendo mais peso com a mesma facilidade e isso tem me afetado como nunca. =/
    E o mundo esfrega na sua cara o corpo perfeito. Vc olha no espelho e se senti mal. Eu me sinto mal. Eu sei que magreza não é felicidade. Eu sei. Mas eu tbm sei que eu me sentia mais confiante quando era mais magrinha.

  6. Bel disse:

    Tá, eu do alto dos meus mais de 40 e tendo sido magra-muito-magra e gorda-muito-gorda, posso dizer com segurança: É tudo uma questão interior. Na época em que eu estava mais linda era a que estava mais infeliz e com a autoestima beirando o chão. Hoje quero emagrecer, mas é mais pela saúde mesmo (joelho, colesterol, etc). Faço o possível, acho que bem menos do que o possível de verdade. Mas a acupuntura ajuda bastante nesse lance da ansiedade. Fiquei SEM VONTADE de comer doce, e hoje chocolate me FAZ MAL, acredite. Não como nem um pedacinho, que a enxaqueca bate feio, dá náuseas e tudo.
    Que tal tentar a acupuntura?
    Bjooo

  7. Eu tinha lido esse post há uns dias e fiquei de comentar, mas fiquei enrolada com alguma coisa e deixei pra depois, mas eu não podia deixar de comentar. A gente meio que conversou um pouco sobre isso quando te pedi as dicas da dieta da proteína (que, aliás, eu nunca fiz). Eu também tô gordinha, não vou te dizer que sempre fui, porque na verdade, até uns 2 anos atrás eu era bem magra mesmo. Quer dizer, a maioria das pessoas acha que eu não tô gorda (tipo, a Dani, qdo me vê na webcam, e outras pessoas próximas), mas eu acho que uns 10 kg a menos me fariam bem demais. Mas agora vou falar do que realmente interessa, Ana, ano passado eu estava péssima, me sentindo feia, gorda, banguela (não sei se vc acompanhou o drama da minha cirurgia buco-maxilo). As pessoas não chegavam em mim, eu não paquerava ninguém, fiquei os primeiros dois meses sem sair de casa, relutava em conhecer pessoas novas e explicar de novo e de novo. Resultado: as pessoas que paquerei foram pessoas que eu já conhecia e ainda assim me rendeu uns momentos de dor de cotovelo que só a Daniela pra explicar pra vc, hahaha. E na virada do ano, voilá, viajei, conheci pessoas, vi que o mundo é bem mais que isso. Resultado: tá chovendo paquera na minha horta. A questão central não é a quantidade de paqueras, isso é só um indicador. Quando eu comecei a me sentir bem comigo mesma de novo eu me permiti e consenti que as pessoas me vissem também. Eu olhei pros lados ao invés de olhar pro chão. Eu sorri ao invés de virar a cara. E é assim que acho que as coisas podem funcionar pra vc tbm, Ana. Não é que seja fácil, longe disso. Eu só acho que se vc cuidar do que te incomoda por dentro primeiro, o resto vai acontecendo por consequência.

    Não conheço vc muito bem, mas te acho iluminada, sabe? Dessas pessoas que faz bem ter por perto? Não sei o motivo de alguns ‘amigos’ recusarem convites seus (provavelmente não valiam tanto a pena assim), mas te digo com sinceridade que eu estaria sempre do seu lado se vc precisasse de mim (ou então só quisesse tomar um porre mesmo, rs).

    Bjo bjo, Ana :*

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